24 de novembro de 2024
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Saúde

Butantan estuda produção de vacina contra gripe aviária H5N1; entenda a doença

Ainda não há registros de infecção no Brasil, porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o vírus tem alta taxa de mortalidade

Os recentes casos de gripe aviária (H5N1) em humanos no Camboja, no continente asiático, resultando na morte de uma menina de 11 anos, deixaram cientistas ao redor do mundo em alerta. O Instituto Butantan, que monitora cepas com potencial pandêmico desde a criação da Fábrica da Influenza, em 2011, está trabalhando no desenvolvimento de uma vacina contra H5N1. Segundo o Butantan, a expectativa é finalizar os testes pré-clínicos ainda neste ano e avançar para o estudo clínico em 2024.

Até o momento, não há registros de H5N1 no Brasil, porém, a Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta que o vírus pode causar doença grave e tem alta taxa de mortalidade: nos últimos 20 anos, 873 casos e 458 óbitos foram reportados em 21 países. O H5N1 é um vírus de ampla disseminação mundial pois infecta aves migratórias, com riscos de atingir aves de criação e também humanos — como no Camboja —, embora a frequência seja menor.

O processo de fabricação da nova vacina é o mesmo da vacina sazonal contra a gripe, produzida anualmente pelo Butantan. Segundo o gerente de desenvolvimento e inovação de produtos do Butantan, Paulo Lee Ho, existem vacinas desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa contra o H5N1, aprovadas para uso apenas em caso de pandemia. No entanto, elas são produzidas com cepas diferentes das que circulam atualmente, provenientes da Indonésia, Vietnã e Turquia.

 

“Estamos utilizando a cepa isolada da Rússia, que geneticamente é muito mais próxima das cepas circulantes hoje. Com isso, ela deve se mostrar mais eficaz do que os outros imunizantes disponíveis. Nós já temos a cepa vacinal e estamos na fase inicial de produção dos bancos virais”, completa Ho. Os primeiros resultados devem ser obtidos até o segundo semestre de 2023 após a realização de testes feitos em modelos animais para avaliar a toxicidade, a segurança e a capacidade de gerar resposta imune.

Recentemente, o Butantan publicou dados de fase 1 do estudo clínico de uma vacina contra a influenza H7N9 – outra cepa com potencial pandêmico que tem sido monitorada pelo instituto – e o imunizante se mostrou altamente seguro e imunogênico. Esse vírus já causou seis surtos na China e matou 40% dos infectados.

Riscos de uma pandemia 

Originalmente, o H5N1 é um vírus que infecta aves migratórias, que ajudaram a disseminá-lo pelo mundo e a atingir aves de criação, impactando a economia. Ele também pode ser transmitido para mamíferos e, menos frequentemente, para humanos, causando surtos esporádicos. Em dezembro de 2022, a Europa precisou sacrificar 50 milhões de aves em granjas contaminadas.

Nos últimos anos, o H5N1 se tornou uma preocupação maior devido aos crescentes casos em mamíferos. “A quantidade de casos e mortes observados nesses animais sugere que a transmissão já pode estar ocorrendo de mamífero para mamífero. Isso torna esse evento muito mais perigoso e aumenta a chance do vírus se adaptar em humanos”, explica Paulo Lee Ho.

O “salto” entre espécies, chamado de spillover pelos cientistas, ocorre por causa das mutações que acontecem no vírus. De acordo com o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como o influenza é um vírus de RNA simples, ele tem maior chance de sofrer mutações que permitam que ele se adeque a um novo ambiente. “Em humanos, o H5N1 causa uma doença relativamente grave, porque nós não temos imunidade contra esse vírus, já que não convivemos com ele”, explica.

O controle da doença nas aves é essencial para reduzir a disseminação do vírus e, consequentemente, as chances de mutação. “Já temos registros de granjas contaminadas em países vizinhos, como Uruguai e Argentina, e a chance do vírus chegar às aves do Brasil é muito grande”, alerta Vecina.

Foto: instituto Butantan / Reprodução