22 de setembro de 2024
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Cotidiano

“Luta da Erva”: Documentário, protagonizado pelos Guaranis, resgata origens da erva-mate

Documentário da Plural Filmes, com direção de Marcia Paraiso, terá duas pré-estreias

Na quinta-feira (31) acontece a pré-estreia do documentário Luta da Erva, em Chapecó, no Oeste de Santa Catarina, e no domingo (3), na Terra Indígena Yvyty Porã, no Rio Grande do Sul.

A pré-estreia de quinta-feira será às 19h, no Cinema dos Trabalhadores, sede do Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos Municipais de Chapecó e Região (SITESPM-CHR). No domingo, o filme também será apresentado em sessão especial de pré-estreia na Terra Indígena Yvyty Porã – Terra Indígena Guarani Barra do Ouro, em Maquiné, Rio Grande do Sul. O intuito é que as populações que protagonizaram o documentário possam assistir em primeira mão.

A produção da Plural Filmes e direção de Marcia Paraiso, apresenta, em 70 minutos, o conhecimento do preparo ancestral, da colheita no mato para o chá, tradição indígena absorvida pelas chamadas populações “caboclas” do Sul do Brasil.

 

Bebidas como “chimarrão”, “tererê” e “mate”, feitas a partir da mesma planta – a Ilex Paraguariensis – e consumidas em grande parte do Brasil, têm sua origem diretamente relacionada à cultura e espiritualidade do povo Guarani.

Pesquisa e gravação

Filmado no outono, inverno e verão, nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, o documentário é inspirado  na pesquisa e livro da professora doutora Arlene Renk – “A Luta da Erva – um ofício étnico da nação brasileira no oeste catarinense”. A pesquisa, realizada entre 1987 e 1989, reuniu muitos entrevistados, entre extratores de erva mate, capatazes, donos de ervateiras e profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, resultando em uma primeira edição do livro, de 1997, e a 2a edição, de 2006.

“A erva mate foi uma entre tantas razões que me chamaram a atenção para a região. Contestada entre Paraná e Santa Catarina, território rico em ervais – um dos motivos, dentre tantos outros, que culminaram na guerra”, conta Marcia. De acordo com sua avaliação, com o processo de colonização e expropriação dos territórios ancestrais e tradicionais, quando indígenas e caboclos perderam suas terras e, consequentemente, o acesso às florestas, “a prática dos saberes tradicionais foram impossibilitadas”.

Além de resgatar a história da erva-mate, o documentário apresenta com profundidade diversas nuances do modo de produção atual, condições de trabalho e consequências ambientais, em contraste com o que era a  tradição dos povos originários. “Todo esse mergulho na erva-mate me mostrou elementos para compreender a dimensão de uma luta que envolve o respeito à cultura e religiosidade de um povo ancestral, a perda de territórios em um país que não fez a reforma agrária”, diz Marcia.

Em lugar dessa política, ao longo de décadas, predominou a entrega das terras “para descendentes de imigrantes e foi imposto um modo de produção rural que não aceitava as culturas das populações tradicionais, o desequilíbrio ambiental de anos de política de Estado”, reflete ela. “Essa imposição incentivou a destruição das florestas de araucárias para plantio de desertos verdes de pinus e eucaliptos ou de investimentos em monoculturas”, completa.

Foto: Jeronimo Carmo/Divulgação