24 de novembro de 2024
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Saúde

Cenas chocantes: hospital de Itajaí enfrenta superlotação há pelo menos 2 meses

Marieta continua recebendo pacientes mesmo sem estrutura e com profissionais esgotados

Imagens chocantes retratam a atual situação do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, de Itajaí. A segunda maior unidade de saúde de Santa Catarina enfrenta, há pelo menos dois meses, um cenário de superlotação de pacientes internados na enfermaria e no Pronto Socorro. É o que apontam uma série de ofícios emitidos pela direção do Hospital obtidos pelo portal TVBV.

O primeiro documento foi emitido em 30 de agosto, e informa que a unidade estava “atuando acima do limite da capacidade instalada, com SUPERLOTAÇÃO nos leitos”. O ofício, assinado pelo Diretor Técnico HMMKB, Dr. Edson Arthur Rossini, solicita apoio para redirecionamento dos pacientes a outras unidades da rede básica e hospitais da região. Novos informes similares foram emitidos em 4, 21, 22 e 28 de setembro, e em 3 e 4 de outubro.

Com a falta de leitos e profissionais para atender a demanda, pacientes são “empilhados” na enfermaria, corredores, utilizam macas antigas atualmente usadas no necrotério do Hospital e precisam compartilhar banheiros com dezenas de pessoas. Uma das imagens, feitas por um funcionário do hospital, mostra uma paciente que caiu no chão por conta das más condições da maca. A direção afirma que irá inaugurar uma nova ala de internação em novembro, mas não há previsão de contratação de profissionais

 

Imagens retratam situação de caos no Hospital Marieta Konder Bornhausen

 

O HMMKB atende munícipios de toda a macrorregião da Foz do Rio Itajaí, e profissionais relatam o desgaste emocional causado pela sobrecarga de trabalho na unidade. “O Hospital emitiu documentos reportando a superlotação e mesmo assim eles não contratam profissionais. Estou trabalhando com 13 leitos, e o ideal seria um enfermeiro para cada oito pacientes. Não tem redirecionamento, a equipe está reduzida, a direção está ciente da situação. O caso do paciente que caiu da maca também foi comunicado e eles continuam utilizando as macas velhas no corredor, que não tem condição nenhuma de receber pacientes”, desabafa um enfermeiro que trabalha na unidade.

Segundo o profissional, o Hospital ainda recebe pacientes mesmo com o baixo efetivo. “Eles continuam trabalhando com superlotação, só não estão emitindo novos avisos. Eu pedi para eles fazerem um ofício e eles não paravam de receber gente. Quando eu via na TV que São Paulo e Rio de Janeiro eram assim, eu pensava ‘que loucura’. Quando você vê isso acontecendo em um estado igual o nosso, que é desenvolvido, tem emprego, oferta toda a infraestrutura que a gente tem e a saúde pública está desse jeito, eu não consigo engolir. É difícil ter sangue de barata e fingir que está tudo bem quando você tem que trabalhar em um lugar desses”, finaliza o enfermeiro.

O que diz a gestão

O Hospital Marieta é um hospital estadual com gestão privada. Segundo a direção, as filas de atendimento são seguidas obedecendo ao princípio de equidade do SUS, e que a alta demanda se dá por ser o único hospital de alta complexidade de toda a região. Uma nova ala de internação para pacientes do SUS deve ser inaugurada na primeira quinzena de novembro. Entretanto, ainda não há previsão de contratação de novos profissionais por falta de verba. Confira a declaração do HMMKB:

“O Hospital Marieta é referência para atendimentos de alta complexidade, para os municípios da Foz do Rio Itajaí e em algumas especialidades, para muitos outros municípios do Estado. Mas também é referência para atendimentos de média complexidade. Desta forma recebe pacientes na porta do Pronto Socorro, por procura direta, por referenciamento de unidades de saúde ou pelo uso da vaga zero, sendo que em todas as situações os atendimentos são prestados mesmo não havendo leitos disponíveis. Esta situação é reiterada e temos emitido notas informando a superlotação, contudo a situação permanece inalterada.

No intuito de minimizar a situação e promover um melhor acolhimento, sempre que possível, usamos a estrutura destinada aos convênios, a qual por sua vez, não é muito significativa, mesmo correndo o risco de não ressarcimento dos serviços prestados.

Enfim, programamos para a primeira quinzena de novembro, a inauguração de um novo andar de internação destinado ao Sistema Único de Saúde, onde serão disponibilizados mais leitos, contribuindo para equacionar parte dos problemas gerados pela superlotação. Reiteramos nosso propósito de atender com qualidade, buscando equilibrar a estrutura existente com a demanda de atendimento.”

Estado se posiciona

A Secretaria de Estado da Saúde participa com apoio financeiro à unidade e afirma que está dialogando com a administração do hospital e com os gestores locais visando apoiar da melhor maneira possível:

“O Hospital Marieta possui papel fundamental na macrorregião de saúde da Foz do Rio Itajaí. O Governo do Estado, por intermédio da secretaria de Saúde realiza aportes financeiros para apoiar o custeio da unidade hospitalar, seja dentro da Politica Hospital Catarinense, bem como com o pagamento de outros convênios como recentemente firmado visando abertura de novos leitos de UTI para o SUS.

A gestão da instituição é vinculada ao município de Itajaí, sendo que a SES participa apoiando no financiamento e coordenando as ações em conjunto com os municípios e a administração hospitalar.

Para a construção do Complexo Madre Teresa do Hospital Marieta Konder Bornhausen foram repassados, pelo Governo do Estado, R$95 milhões, e a administração apontou que irá inaugurar, ainda em novembro, uma das novas alas que deverá ajudar na solução dos problemas apontados.”

A Secretaria de Saúde de Itajaí afirma que, “apesar de o Município ter convênio com a instituição para atendimentos via SUS, não é o responsável por fazer o redirecionamento de pacientes, nem a gestão dos leitos. O órgão afirma que tem acompanhado a situação junto ao Estado”.

 

Fotos: Arquivo pessoal/TVBV