Foto: Loja em Florianópolis / Reprodução
Direção do Carrefour no Brasil se manifestou após o Ministro da Agricultura criticar os comentários de Alexandre Boumpard
O Carrefour enfrenta uma onda de boicotes e pressão no Brasil após declarações do CEO francês, Alexandre Bompard, gerarem repercussão negativa. O executivo anunciou que a empresa na França não comercializará carnes do Mercosul, mesmo com preços e condições vantajosas, afirmando o compromisso de priorizar outros fornecedores. A declaração, feita na última quarta-feira (20), despertou reações intensas no Brasil, envolvendo o setor agropecuário, o Congresso Nacional e o próprio governo.
Grandes frigoríficos, como JBS e Masterboi, suspenderam o fornecimento de carne à rede, intensificando o boicote. A Masterboi, responsável por entregar cerca de 250 toneladas mensais ao Carrefour, justificou a decisão como apoio ao setor agropecuário brasileiro. Paralelamente, políticos e representantes do agronegócio criticaram duramente a postura da matriz francesa, com o Ministro da Agricultura, Carlos Fávero, se posicionando contra as declarações de Bompard.
Na segunda-feira (25), o Jornal da Noite, da Band, noticiou que a direção brasileira afirmou ter sido surpreendida pela medida da matriz e que trabalha uma posição diferente do Carrefour da França. Confira a carta enviada ao Ministro da Agricultura no Brasil:
Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil,
Senhor Carlos Fávaro,
A declaração de apoio do Carrefour França dos produtores agricolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes.
Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o pais em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente,
Alexandre Bompard
Diretor-Presidente do Grupo Carrefour
Reação do Ministro
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, classificou como uma vitória do governo e dos produtores brasileiros a carta de retratação enviada pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard. A declaração foi feita em entrevista à Band.
Fávaro enfatizou que a relação tende a voltar à normalidade após o gesto. Segundo ele, a mensagem é clara: qualquer tentativa de prejudicar os produtos brasileiros deverá ser repensada. O ministro reforçou que o Brasil não aceitará ações irresponsáveis que possam comprometer a reputação dos seus produtos no mercado global.