Marcello Casal Jr / Agência Brasil
4 de junho de 2024
É isso que vive hoje o PSD de Santa Catarina. O partido estava na esperança de recolocar Raimundo Colombo no Senado. Para isso, o Tribunal Superior Eleitoral teria que cassar Jorge Seif. E mais do que isso, já que Raimundo Colombo sinalizava que não partiria para uma terceira disputa consecutiva. Pois perdeu em 2018 e depois em 2022. A perspectiva era de que o TSE pudesse garantir a sua investidura, mas esse sonho desmoronou.
Primeiro porque Seif dificilmente será cassado. O PSD, que tem dois deputados federais, Ricardo Guidi e Ismael dos Santos. Guidi é o candidato favorito à prefeitura de Criciúma. Uma vez eleito, seria efetivado Darci de Matos, primeiro suplente, que já foi a Criciúma e garantiu apoio ao parlamentar.
Darci não deve mais nada ao PSD, partido que também atropelou Ricardo Guidi e buscou outra candidatura depois da filiação do prefeito Clésio Salvaro. Isso Darci não vai esquecer. Ou seja, o partido não só deu uma rasteira em Ricardo Guidi, como também o ignorou. Mas não é apenas Darci de Matos que torce e vai trabalhar pela eleição de Ricardo Guidi. Também Ismael dos Santos. Darci, por interesse direto. Ismael dos Santos também já esteve em Criciúma e declarou apoio a Ricardo Guidi muito embora o PSD, seu partido, tenha agora candidato na figura Vaguinho Espíndola.
Mergulho
Ninguém do PSD catarinense deu um pio. Nota oficial, declaração, absolutamente nada. Os dirigentes submergiram, mergulharam porque estão preocupados com o futuro. Em Blumenau, base de Ismael, sua esposa seria vice de Odair Tramontin, do Novo, na disputa pela prefeitura, mas já declinou.
O PSD terá que buscar outro nome para compor com Tramontin na terceira maior cidade de Santa Catarina. Ismael dos Santos, assim como Darci, já emite sinais de que, na janela de março de 2026, poderá buscar abrigo em outra legenda, saindo do PSD, partido que faz parte do governo Lula com três ministérios.
Fé
Ismael representa um segmento da igreja evangélica alinhada a Jair Bolsonaro e contra Lula. Ainda é cedo pra cravar, evidentemente, mas muito provavelmente ambos vão para o PL. Os dois têm conversado com Jorginho Mello.
Sem bancada
Ou seja, o PSD pode enfrentar a eleição de 2026 sem nenhum representante no Congresso Nacional. Zero em Brasília, perdendo o protagonismo, a relevância junto ao próprio presidente, o chefão Gilberto Kassab.
Dividendos
Até porque a representação na Câmara é fundamental para definir fundo eleitoral, fundo partidário, tempo de televisão, sem falar nos espaços preciosos da própria Câmara dos Deputados.
Sombrio
E o que o PSD está pensando? Considerando-se todas essas perspectivas nefastas e desalentadoras, o trabalho no partido é para que possa pelo menos eleger um bom número de prefeitos.
Meta
Falava-se aí em 50 prefeitos eleitos pelo PSD, mas talvez não chegue a isso. E dos grandes municípios que alimentavam esperanças efetivas, certo mesmo é só Chapecó, onde é indiscutível o favoritismo de João Rodrigues, candidato à reeleição.
Em alta
Agora está surgindo Balneário Camboriú, com Juliana Pavan, graças aos desacertos do próprio PL lá. Ela se filiou recentemente ao PSD. Mas, se analisarmos os 15 maiores municípios, o partido tem chances reais nestes dois. E Florianópolis? Topázio Silveira Neto passou o fim de semana entregando obras na Capital ao lado de Jorginho Mello.
Proximidade
Ali não é só parceria administrativa, indiscutivelmente já tem uma parceria político-partidária- eleitoral. Com Jorginho indicando o vice nestas eleições e depois, muito provavelmente, também com a filiação de Topázio ao PL, mas ele não precisa esperar a janela de março de 2026. Como prefeito, pode mudar de partido a hora que bem entender. Seu mandato não corre risco.
E São José? Orvino Coelho de Ávila vai à reeleição, mas também não é favorito num cenário em que não figura como um candidato de direita.
Vulnerável
Portanto, é delicada a situação enfrentada pelo PSD, que está derretendo em Santa Catarina. Vão precisar de estratégia para 2026. João Rodrigues, reeleito, é um nome para compor majoritária, assim como Clésio Salvaro, se eleger o sucessor.
Aposta
Clésio Salvaro teria também possibilidade de uma inserção majoritária, mas se não for bem-sucedido no grande município do sul do estado, a sua candidatura natural seria a de deputado estadual. E Júlio Garcia, deputado estadual de vários mandatos, teria que ir para federal.
Veterano
Aos 76 anos, Garcia vai ter que comer muito feijão com arroz para se eleger federal e, sem Ismael e sem Darci, os pessedistas vão ter que reunir nomes para formar uma chapa proporcional à Câmara com consistência. Para pelo menos tentar eleger Júlio Garcia.
Peso
O que não será tarefa fácil. Julio Garcia está longe de ser um candidato leve. Nas últimas eleições, se elegeu à base de esquemas empresariais exclusivamente. Zero de carisma e empatia. E sua condição de exímio articulador político já está sendo questionada em várias frentes. Inclusive no próprio partido, mas ainda em caráter reservado.
Trio
Na Assembleia são só três cadeiras do PSD, a do próprio Júlio Garcia, que iria à federal, com Clésio Salvaro a estadual, esse com reais chances de se eleger. Mas Napoleão Bernardes vai ter dificuldade para conquistar novo mandato. Vários prefeitos que o apoiaram em 2022 na Assembleia vão concorrer a deputado estadual.
Subida
Sobrou Mário Motta, que é uma incógnita. Elegeu-se na esteira de sua popularidade como grande comunicador, o que sempre torna a reeleição desafiadora, embora esteja fazendo um bom mandato. Basta ver a situação enfrentada por Hélio Costa. Em 2018, elegeu-se deputado federal com quase 190.000 votos; em 2022, fez 23.000 votos. De modo que a situação está para lá de periclitante para o PSD catarinense.