Por Fernando Bortoluzzi/TVBV Online | Imagem: Arquivo pessoal/Reprodução
Animais deixam ‘rastro de destruição’ em condomínios e levantam preocupações sobre doenças
Quem costumava passear pelo Jardim Botânico do Itacorubi, no coração de Florianópolis, se admirava com as capivaras que habitavam o local. Eram dezenas de animais que lá se alimentavam e repousavam, um atrativo a mais para visitantes e moradores. Entretanto, essa realidade mudou com o cercamento do parque, e as capivaras agora são uma dor de cabeça para moradores do bairro Itacorubi.
Impedidos de entrar no local, os animais agora tomam conta de ruas do bairro. Além de comer as plantas de jardins de condomínios e de residências, as capivaras também invadem a Rodovia Ademar Gonzaga, principal e movimentada ligação entre o Centro e as praias do leste da Ilha.
Da última vez que Ingrid Beduschi visitou o Jardim Botânico, ela chegou contar 52 capivaras. Com o cercamento do local, os animais buscam outros espaços. “Estão destruindo todos os jardins ao redor dos prédios, que os condomínios cuidam e fizeram investimentos. E tem mais um agravante, esses animais são portadores de carrapatos e nós temos centenas de cachorros e pessoas que passam por aqui todos os dias”, desabafa a moradora da Rua Antônio Costa.
A revolta de Ingrid se traduz nos registros feitos por quem vive nas imediações do Jardim Botânico. Imagens mostram que os animais andam livremente — e aparentemente sem medo algum — pelas ruas e calçadas e se alimentam das plantas decorativas dos condomínios. O resultado tem sido um “rastro de destruição” deixado pelos roedores.
A aposentada defende que falta atitude das autoridades para controlar as consequências observadas nas ruas do Itacorubi. “Os órgãos públicos não dão um jeito nesses animais, nem observam a natalidade deles. Estão destruindo tudo, nos colocando a mercê de doenças e de acidentes, tudo em virtude da falta de atitude e vontade do órgão responsável”. Entretanto, resolver a questão não é tão fácil quanto parece.
Cercamento do Jardim Botânico
A circulação dos maiores roedores do mundo nos arredores do Manguezal do Itacorubi sempre foi parte do cotidiano de Florianópolis. Não é incomum vê-las andando até mesmo nas imediações da Av. Prof. Henrique da Silva Fontes, no bairro Trindade e Córrego Grande. Entretanto, a situação no Itacorubi parece ter começado e se intensificar com o cercamento do parque Jardim Botânico, concluído pela Prefeitura da Capital no final do primeiro semestre de 2024.
A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável informou à reportagem do TVBV Online que a obra teve como objetivo delimitar a extensão do parque, até antes aberto, trazendo mais segurança ao espaço. A pasta explica ainda que a finalidade do Jardim é “a criação de coleções, cultivo e exposição de uma ampla diversidade de plantas, seja para apreciação, pesquisa ou atividades de educação ambiental, não tendo como foco a presença de espécies da fauna”.
Vídeos mostram capivaras ocupando as ruas do Itacorubi
O que dizem as autoridades ambientais
Procurado pela reportagem do TVBV Online, o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC) afirma que, por se tratar de uma espécie silvestre, as capivaras são de responsabilidade do IBAMA. A autoridade nacional explica que medidas de manejo de animais silvestres de vida livre só podem ser tomadas com a comprovação de que a espécie está causando transtornos significativos de ordem econômica ou ambiental, ou que haja dados que apontem para o risco à saúde pública.
No caso das capivaras, o IBAMA informa que, até o momento, não há há estudos com dados ou indicativo de que a população da espécie esteja causando algum tipo de desequilíbrio ambiental ou de que a capacidade do ambiente já não comporte a população desse animal. “A realização do diagnóstico da situação é imprescindível para que o Ibama realize a análise do manejo a ser proposto”, explica o órgão.
Acontece que as capivaras são uma espécie sinantrópica, ou seja, que se adapta a viver junto com o ser humano, a exemplo de pombos, morcegos e gambás. O IBAMA não realiza ações de manejo de fauna sinantrópica. O órgão ressalta que sua competência envolve apenas avaliar e autorizar ações de manejo propostas, normalmente por outras áreas da gestão pública, como saúde, agricultura, defesa civil, turismo e meio ambiente. Medidas para evitar acidentes com capivaras também devem ser realizadas pelo poder público local.
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O IMA-SC explica ainda que as capivaras têm grande capacidade de se adaptar a ambientes alterados pelo homem, onde conseguem encontrar alimentos e abrigo facilmente. “Considerando essa realidade, é importante que cada vez mais as cidades e pessoas estejam preparadas para a coexistência humano-fauna silvestre”, explica. O órgão do governo estadual reforça ainda que, caso o cidadão precisar solicitar o resgate ao encontrar animais silvestres doentes ou feridos, que acione a Polícia Militar Ambiental pelo telefone 190 ou pelo aplicativo PMSC Cidadão
Capivaras transmitem doenças?
As capivaras, em si, não são vetores de doenças. Entretanto, o IMA-SC explica que esses animais, assim como cavalos e bois, podem ser hospedeiros de carrapatos, que podem estar infectados pela bactéria causadora da febre maculosa. A transmissão acontece quando o inseto infectado se adere ao corpo da pessoa ou também pela penetração das bactérias em lesões de pele, através do esmagamento do carrapato. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), no Brasil, o principal vetor da doença é o carrapato-estrela, encontrado especialmente nas capivaras.
Os sintomas da febre maculosa incluem febre, dores de cabeça e muscular intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos, irritação de pele, linfonodos aumentados e lesão no local onde o carrapato ficou aderido.
“Os sintomas podem aparecer entre o segundo e o 14º dia de exposição. É sempre importante procurar por atendimento médico ao apresentar sinais e sintomas. O médico vai fazer a avaliação, investigando se a pessoa mora e/ou esteve em local de risco e se ela pode ter sido picada por um carrapato. Além disso, são realizados exames para confirmar o diagnóstico”, explica Ivânia Folster, gerente de zoonoses da Diretoria de Vigilância Epidemiológica.