Por: Luiza Vianna* / Foto: Sea Shepherd Brasil
Praia no sul de Florianópolis foi apontada com a maior presença de microplástico do país em estudo da ONG Sea Shepherd Brasil com o Instituto Oceanográfico da USP
A praia de Pântano do Sul, no sul de Florianópolis, foi identificada como a mais contaminada com microplásticos do país, segundo um estudo da ONG Sea Shepherd Brasil, que mapeou a poluição causada pelo material nas orlas das praias brasileiras. O estudo, divulgado na última quinta-feira (19), gerou ampla repercussão na mídia e provocou a indignação dos moradores da região.
O presidente da Associação de Moradores do Pântano do Sul (AMPSUL), Wagner Lima, expressou a frustração da comunidade em relação à maneira como o estudo foi interpretado. Ele acredita que as notícias resultantes da pesquisa são tendenciosas e prejudicam a imagem da praia. “Quem lê apenas as manchetes pode pensar que o mar aqui é poluído, quando, na verdade, o problema foi encontrado na areia. Isso afasta os turistas e enfraquece a comunidade”, ressalta.
Wagner, de 42 anos, é morador do bairro desde que nasceu e afirma que o estudo não reflete a realidade local. “Minha família vive aqui há gerações. Sou filho de pescador e sei que a praia é limpa. É triste ver a comunidade recebendo destaque de forma negativa”, lamenta. A orla do Pântano do Sul é própria para banho de mar, conforme as últimas quatro análises do Instituto do Meio Ambiente (IMA), elaboradas entre abril e maio deste ano.
O presidente da AMPSUL explica que a presença de microplásticos na areia é consequência de ressacas, mudanças de maré e correntezas, que transportam resíduos de outras regiões para praias de mar aberto, como é o caso do Pântano do Sul. Wagner complementa que, após períodos de fortes chuvas e ressacas, a comunidade se mobiliza para realizar limpezas na praia.
A AMPSUL agendou uma reunião para esta terça-feira (24) com os responsáveis pela pesquisa, a fim de esclarecer a metodologia utilizada e o período em que a análise foi realizada. “Nós, como associação, temos o dever de fornecer essa resposta à comunidade e a todos que frequentam a praia”, afirma Wagner. Além disso, o presidente anunciou que a associação solicitará uma nova pesquisa para comparar os resultados obtidos anteriormente.
Sobre a pesquisa
Conforme o relatório, a poluição do oceano causada por plásticos é descrita pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos maiores problemas ambientais da história. O estudo apontou a presença de plástico em todas praias analisadas.
Foram 16 meses de expedição, 7 mil quilômetros percorridos, 306 praias e 201 municípios visitados. A praia do Pântano do Sul foi apontada com a maior presença de microplástico do país e também lidera os índices de presença de macro resíduos e macro plásticos. Em apenas um metro quadrado de praia foram identificados 17 macro resíduos e 144 partículas de microplástico. No documento da pesquisa, a ONG ressalta que os resultados do estudo são preliminares.
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A geógrafa e moradora do bairro há 30 anos, Rosemy Nascimento, alerta sobre a importância de ter cautela na divulgação do estudo para evitar interpretações sensacionalistas. “A pesquisa é valiosa, mas requer um detalhamento metodológico mais aprofundado, incluindo a avaliação meteorológica, a ampliação das áreas amostrais e os períodos de coleta, para garantir uma interpretação mais precisa e responsável”, afirma.
Rosemy ressalta que o uso do termo “poluição” pode ser interpretado como uma grave ameaça à saúde, o que não reflete a realidade do local. “A praia é própria para banho, a pesca é segura para consumo, e a água potável da comunidade é proveniente da Lagoa do Peri”, esclarece a geógrafa. Ela acrescenta que “a pesquisa destaca que os dados são preliminares e se referem a uma coleta amostral realizada em uma data específica, sem considerar plenamente as dinâmicas marinhas e meteorológicas características do Pântano do Sul, como marés intensas e ventos fortes”.
O que diz a prefeitura?
Confira abaixo a nota da Prefeitura de Florianópolis sobre o assunto
A Prefeitura, por meio Secretaria municipal de meio ambiente sustentável, explica que os microplásticos nas praias não são resultado de poluição local, mas sim de resíduos transportados por correntes oceânicas oriundas de outras regiões. O próprio estudo revela que as praias mais afetadas são as mais isoladas e protegidas. Plásticos descartados de forma inadequada em outras regiões do globo terrestre se fragmentam e chegam às praias, mesmo que estas não sejam poluídas diretamente. Lembramos que a praia do Pântano do Sul tem sua qualidade de água própria para banho, apresentando balneabilidade própria ao longo de todo ano.
*Estagiária sob supervisão de Flávio Junior