Por: Juliana Bartholomey | Foto: Bianca Queda
Medo pela implantação do “Projeto 2025” impulsiona venda de obras distópicas no país norte americano
O recente aumento nas vendas de obras ficcionais distópicas nos Estados Unidos está sendo impulsionado pelo temor em torno do Projeto 2025, um plano desenvolvido por aliados de Donald Trump, que visa realizar mudanças drásticas na estrutura governamental e cultural do país. Embora não sendo confirmada a adoção da proposta no novo mandato, gerou especulações de que certas obras literárias, especialmente aquelas que tratam de temas de opressão, poderiam ser banidas nos próximos anos.
O compartilhamento nas redes sociais de listas falsas com títulos de livros que seriam banidos também ajudaram a impulsionar as vendas de obras distópicas.
Mas o que o plano tem a ver com livros de ficção?
Desde de que Trump garantiu a vitória nas eleições presidenciais de 2024, livros com temas de opressão e censura experimentaram um crescimento nas vendas. “O Conto da Aia”, de Margaret Atwood, obra ficcional fundamentada em um regime teocrático onde as mulheres são controladas e privadas de direitos básicos, registrou um aumento impressionante de 6.866% em vendas na Amazon dos EUA.
Atualmente, a obra ocupa o oitavo lugar entre os mais vendidos da Barnes & Noble, maior rede de livrarias do país. Muitos americanos encontraram paralelos entre o romance e as atuais discussões sobre direitos reprodutivos, especialmente diante da possibilidade de restrições ainda mais severas no futuro.
Outros clássicos distópicos também tiveram aumento na procura como “1984”, de George Orwell, que trata da vigilância e controle governamental, teve suas vendas aumentadas em 250%.
Aumento de banimento de livros nos EUA em 2024
Além das especulações em torno do Projeto 2025, os Estados Unidos já registraram um aumento expressivo no número de livros banidos em escolas públicas. Segundo dados da PEN America, organização que defende a liberdade de expressão, mais de 10.000 títulos foram removidos de bibliotecas escolares entre 2023 e 2024. Livros como “Jogos Vorazes”, frequentemente criticado por seus temas de violência e política, estão entre os que foram alvos de proibição.
As justificativas para os banimentos variam. Relatórios de 2024 mostram que a maioria dos livros retirados das bibliotecas abordam histórias de pessoas negras, LGBTQIA+, ou de mulheres que enfrentaram abusos ou violência sexual. Outros livros foram banidos sob acusações de “pornografia” ou por serem considerados “indecentes”, muitas vezes sem qualquer indicação das passagens que poderiam justificar essa censura.
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Entre os dez livros mais banidos de 2023, segundo a American Library Association (ALA), a maior e mais antiga organização de educação literária do mundo, estão obras conhecidas como “As Vantagens de Ser Invisível” e “Gênero Queer: Memórias”. Essas obras foram censuradas principalmente por conterem conteúdo LGBTQIA+ e temas considerados sexualmente explícitos. As listas de obras banidas são elaboradas a partir de relatórios de profissionais de bibliotecas, membros da comunidade e publicações noticiadas nos Estados Unidos, refletindo uma tendência crescente de controle sobre o conteúdo literário acessível nas escolas.