22 de setembro de 2024
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Cotidiano

Primeira “lixo zero” do país, escola catarinense aprimora metodologia e defende título; confira

Com processos de sustentabilidade registrados em livro, ações ecológicas vão
sendo repassadas para alunos mais novos ao longo dos anos

A primeira escola lixo zero do país é de Santa Catarina. Localizada em São José, município da Grande Florianópolis, a instituição estadual Aldo Câmara da Silva recebeu a certificação no fim do ano letivo de 2019 e mesmo durante a pandemia a comunidade escolar continuou com as atividades necessárias para ser aprovada na auditoria anual e manter o título.

“Repensar, reduzir, reciclar”: Essas palavras estão escritas na parede do colégio, que tem mais de 600 estudantes. Perto do refeitório, há um painel que diz “aqui não tem lixos, tem resíduos”, com diferentes caixas para que os estudantes possam descartar embalagens, papel usado em sala de aula, entre outros, chamado de residuário.

Todos os resíduos da escola são doados para uma associação de catadores e o lixo orgânico se transforma em adubo, com o processo de compostagem. No pátio central da unidade, há muito verde e uma horta, que cresceu com o adubo produzido ali, processo que envolve toda a comunidade escolar, incluindo as famílias. Semanalmente, a escola entrega alimentos plantados ali para as famílias dos estudantes.

  Com essa mentalidade, a escola defende sua certificação, recebida em reconhecimento a um projeto que nasceu nas aulas de português e, após um seminário, os alunos se desafiaram a reduzir em pelo menos 90% a produção de lixo. Em 2020, com a pandemia, o processo passou por uma transformação pedagógica, ganhando corpo e engajando mais os alunos na causa.

“Foi um trabalho interdisciplinar, fizemos um concurso para fazer a identidade visual e desde então vemos os alunos cada vez mais envolvidos, transformando o dia a dia de nossa escola”, explica a coordenadora da escola, Fabiana Nogueira. “Hoje ele é um projeto de vida e uma forma de viver, acontece como uma rotina da escola, virou hábito entre os estudantes, que compreendem a responsabilidade social deles também”, completa a diretora, Marciléia Izabel Pereira.

Ciclo vivo

Assim como as embalagens, o lixo orgânico produzido na escola também passa por um processo de transformação. Por meio das leiras de compostagem, o resíduo se transforma em adubo e ajuda a alimentar o ciclo de vida na unidade, retornando para a horta para virar alface, tomate, abóbora e outros alimentos plantados ali.

Sabrina dos Santos da Silva, aluna de 13 anos, ajuda estudantes mais novos a entenderem o processo de reciclagem e de compostagem na escola e se orgulha pela continuidade do projeto. “O que me influenciou foi saber que quando eu sair daqui, eu ajudei a escola e as ações podem mudar o mundo”, explica ela.

As ações não param na escola e o aprendizado sobre os resíduos transforma também o dia a dia das famílias. “O projeto mudou muito minha percepção e levei essa transformação para casa também, ensinando e compartilhando as ações com meus pais sobre como separar o lixo, separar tampinhas”, explica a estudante Maria Augusta Brasil.

Metodologia registrada em livro

O projeto já cruzou o oceano, virou documentário e levou os estudantes até Portugal para falar sobre o projeto. Recentemente, o case da EBB virou o livro “Pedagogia da Autonomia e Escolas Lixo Zero”, de autoria da professora Fabiana, coordenadora do projeto.

A publicação apresenta, em 250 páginas, depoimentos e experiências dos professores, aplicando a pedagogia do educador Paulo Freire ao conceito lixo zero na sociedade contemporânea.

O livro sugere práticas e hábitos com a adoção do lixo zero e traz, em detalhes, a transformação social e ecológica que aconteceu na Escola. “O lixo só é lixo porque nós tornamos ele lixo. A embalagem é um produto que pode voltar para a cadeia de produção, e pode ser reintegrado”, conclui Fabiana.

Fotos: Marco Favero / Secom