Imagens de março de 2023 aparentavam fissuras na parede do reservatório
Orçado em R$ 6,6 milhões, o Reservatório R4 de Água Tratada do Monte Cristo, da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) foi inaugurado há menos de um ano e meio. Entregue pela empresa estadual no dia 25 de março de 2022, a estrutura durou 17 meses e 12 dias até se romper, na madrugada desta quarta-feira (6), atingindo dezenas de casas no bairro Monte Cristo, região Continental de Florianópolis.
Nas redes sociais, a catástrofe está sendo tratada por internautas como uma “tragédia anunciada”. Imagens recuperadas do Google Street View mostram que em março de 2023 a parede do reservatório já apresentava fissuras, um ano após sua inauguração. Confira abaixo fotos do antes e depois e também os vídeos dos danos causados pelo alagamento.
Segundo a Casan, o reservatório da Rua Luís Carlos Prestes tinha capacidade de 8 milhões de litros e seu rompimento causou uma inundação de 2 mil metros cúbicos. De acordo com estimativa preliminar da Defesa Civil de Florianópolis, na manhã desta quarta (6), 85 casas e 100 pessoas foram atingidas e recebem acolhimento.
Desculpas e vistorias
O rompimento do reservatório no bairro Monte Cristo acontece menos de três anos após outra catástrofe ambiental provocada pela Casan em Florianópolis: o rompimento da estação de tratamento na Lagoa da Conceição, em 25 de janeiro de 2021.
Em conversa com os moradores do Monte Cristo, o diretor-presidente da Casan, Edson Moritz, pediu desculpas pela tragédia e prometeu uma vistoria geral em unidades de armazenamento de água pelo estado.
“Queria pedir desculpas, ainda que não seja desculpável o que aconteceu, com toda sinceridade”, afirmou o presidente. “Agora, nossa primeira questão é o cuidado e a saúde de vocês, e estamos mobilizados desde a primeira hora para fornecer rapidamente alimentos e abrigo. Enquanto todos não estiverem com o mínimo de conforto, não vamos sair daqui com a equipe.”
Ex-diretor financeiro da Casan, Moritz assumiu o comando da empresa desde a saída de Laudelino de Bastos e Silva, no final de agosto. Antes de Bastos e Silva, a Casan era comandada por Roberta Maas dos Anjos (2019 – 2023), presidente na época de inauguração do Reservatório R4, do Monte Cristo e também na época do desastre da Lagoa da Conceição.
Cobrança por investigação
João Cobalchini (União Brasil), presidente da Câmara de Vereadores e prefeito em exercício de Florianópolis, esteve no local do alagamento e afirmou que a prioridade no momento é atender famílias atingidas, mas cobrou “uma apuração detalhada dos fatos”. Ainda, Cobalchini completou dizendo exigirá “a responsabilização dos responsáveis por essa situação” e também “que todos sejam ressarcidos integralmente”.
No mesmo tom, o prefeito eleito Topázio Neto (PSD), que se encontra em viagem oficial à Coreia do Sul, publicou vídeo em suas redes sociais dizendo que irá “abrir um inquérito para apurar as causas do rompimento”.
O governador de Santa Catarina Jorginho Mello (PL) também esteve no local atingido e declarou que não irá fazer uma “caça às bruxas”, mas que irá “apurar toda a responsabilidade técnica”. “Todo mundo tem que ser responsável pelo que faz. A Casan tem compromisso e responsabilidade por ser a empresa que cuida desse sistema”, frisou o governador.
Segundo a Polícia Civil, será aberto inquérito para investigar o caso. “De acordo com o delegado-geral [Ulisses Gabriel], o governador Jorginho Mello (PL) determinou que as polícias Civil e Científica identifiquem as circunstâncias e responsabilizem as pessoas que, de alguma forma, contribuíram para a catástrofe”, informou.
MAB se solidariza
O Movimento Atingidos por Barragens (MAB) emitiu nota em solidariedade às pessoas atingidas pela tragédia no Monte Cristo. No comunicado, a entidade também “cobra providências de reparação pelas perdas das famílias com urgência” e lembra que “a Casan é uma empresa pública, que deve estar a serviço da população”.
Tragédias como essas são anunciadas, pois os reservatórios são construídos muito próximos a áreas residenciais, colocando em risco as comunidades do entorno — Movimento Atingidos por Barragens (MAB)
Reservatório R4 — antes e depois
Veja momento em que o reservatório se rompe
O vídeo de uma câmera de segurança do 22º Batalhão de Polícia Militar de Santa Catarina mostra o momento em que a estrutura quebra e a água inunda a região.
Confira o estrago causado pela inundação
Força-tarefa para limpeza
200 pessoas, 40 caminhões e 10 equipamentos operam na limpeza do bairro Monte Cristo, em ação da Secretaria Municipal de Limpeza e Manutenção Urbana. As equipes atuam na desobstrução de vias e na remoção de resíduos no local do rompimento da caixa d’água da Casan. Ainda não há informações sobre a quantidade de resíduos volumosos removidos do local do acidente.
Os resíduos estão sendo levados para ponto de apoio temporário no Continente, para triagem e encaminhamento a destino final adequado. O entulho da caixa d’água também está sendo removido e plataformas contratadas pela Casan estão operam na remoção dos automóveis atingidos.
A partir de quinta-feira (7), a limpeza será feita também nas residências, com caixas estacionárias para disposição de móveis e aparelhos danificados. A previsão é de que a força-tarefa atue no Monte Cristo até pelo menos sexta-feira (8).
Campanha de doação
Além da limpeza, a prefeitura iniciou uma campanha de arrecadação de roupas, cestas básicas, produtos de limpeza e utensílios domésticos. As doações podem ser feitas até o dia 10 de setembro diretamente na Fundação Somar (Rua Padre Lourenço R. de Andrade, 180, Santo Antônio de Lisboa); na Secretaria de Assistência Social (Rua Dom Jaime Câmera, 217, Centro) e na Secretaria do Continente (Rua João Evangelista da Costa, 827, Jardim Atlântico).
Fotos: Google Street View – MAB
