Michael Lichtenegger desapareceu em outubro na Praia da Joaquina, em Florianópolis
A Polícia Civil de Santa Catarina, por meio da Delegacia de Proteção ao Turista (DPTUR) e da Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas (DPPD), apresentou ao Poder Judiciário as conclusões do inquérito policial que apurou o desaparecimento de um turista austríaco em Florianópolis em outubro deste ano.
O corpo de Michael Lichtenegger, 40 anos, foi encontrado dez dias depois. A identificação foi feita a partir da comparação da arcada dentária do cadáver com uma radiografia odontológica da vítima, que confirmou a morte por afogamento do turista.
O turista viajava pela América do Sul e foi visto pela última vez na tarde de 19 de outubro na Praia da Joaquina, Leste da Ilha de Florianópolis. Ele já possuía viagem agendada para a cidade de São Paulo, onde desembarcaria no dia 21 de outubro. Contudo, a ausência de Michael e a falta de comunicação com a família por dois dias deu indícios do desaparecimento do estrangeiro.
A investigação
A Polícia Civil pediu a quebra de sigilo de dados de aplicativos de encontros, redes sociais e contas em nuvem pertencentes ao austríaco. Ao mesmo tempo, as buscas foram intensificadas em terra, mar e ar nas proximidades do local onde Michael foi visto pela última vez. A DPPD identificou testemunhas, trajetos e elementos que pudessem confirmar seu paradeiro, como imagens de câmeras de vigilância de comércios e residências.
A mochila de Lichtenegger foi encontrada na Praia da Joaquina sob um deck de madeira, contendo diversos objetos pessoais. Entre eles, seu telefone celular, sem carga, documentos paraguaios em seu nome, cartões de crédito e roupas.
Durante a investigação, foram ouvidas testemunhas, inclusive pessoas que alegaram ter visto o homem após a data de seu desaparecimento. Foram analisadas câmeras de segurança, mas não foram encontrados quaisquer indícios de que turista estivesse circulando pela Capital após a data de seu desaparecimento.
Histórico digital
A DPTUR passou a analisar os dados obtidos das contas de aplicativos de encontros, redes sociais e nuvem. As conversas não apontaram para qualquer relacionamento ou exposição a risco pelo turista. As fotografias em nuvem demonstram que Michael estava sozinho no dia em que desapareceu.
Testemunhas relataram que ele continuava recebendo mensagens por aplicativos de comunicação até a manhã do dia 20 de outubro, o que poderia evidenciar que ainda estivesse vivo após seu desaparecimento no dia 19. De acordo com a conclusão apresentada pelo Delegado Renan Scandolara, a análise dos metadados de conexões evidenciam que o telefone de turista manteve-se conectado à internet até a provável descarga completa da bateria do telefone. “O turista havia se conectado à rede pertencente ao restaurante em que esteve por último, que encontra-se próximo ao ponto em que localizada sua mochila, o que indica que a conexão foi mantida em razão dessa rede”, disse Scandolara.
Encontro de cadáver e cooperação internacional
O corpo de Michael foi encontrado em 29 de outubro, dez dias após o desaparecimento. O cadáver, até então não identificado, foi localizado ao mar nas ilhas Moleques do Sul, em Florianópolis, e estava em estado avançado de decomposição.
Uma vez que os indícios indicavam tratar-se do turista, já que não haviam outras denúncias de pessoas desaparecidas no mar com as características do estrangeiro, a Polícia Civil realizou atos de cooperação internacional para auxílio na identificação do cadáver. Foram acionadas autoridades da Áustria no Brasil, bem como a Polícia Nacional do Paraguai e a Polícia Austríaca, a fim de se obter documentos e prontuários que permitissem a identificação do cadáver.
Foram recebidas as impressões digitais e documentos odontológicos do falecido, o que permitiu confirmar com segurança que o corpo era de Lichtenegger. Os familiares da vítima viajaram da Áustria para Florianópolis para realizar os ritos funerários e a repatriação do corpo, juntamente com autoridades consulares austríacos. Durante esse período, os estrangeiros foram assistidos pela Delegacia de Proteção ao Turista (DPTUR), que prestou auxílio na liberação do cadáver à família, elaboração de documentos relativos ao óbito e entrega dos objetos pessoais.
A conclusão da investigação
Na conclusão do Inquérito Policial, o Delegado de Polícia Renan Scandolara salientou que “a hipótese plausível é de que a vítima tenha deixado seus objetos pessoais em sua mochila, a colocado sob o deck de madeira e ingressado no mar da Praia da Joaquina. Michael havia ingerido bebida alcoólica e o mar encontrava-se bastante agitado e com correntes marítimas significativas, sinalizado com bandeira vermelha. Não havia ninguém junto, o que indica que ele ingressou sozinho no mar. A falta de retorno do turista à praia para buscar seus pertences é elemento que reforça, por fim, a morte acidental por afogamento do estrangeiro”.
O delegado destacou também a falta de “sinal de violência externa na análise do cadáver. Essa informação fecha com a ausência de indícios mínimos da prática de delitos com violência e/ou grave ameaça: todos os pertences da vítima foram localizados na praia, na forma que ele possivelmente os havia deixado (sem indicativos de latrocínio); não há histórico de conversas em aplicativos de relacionamento que permitam indicar que Michel estivesse em risco; e não há elementos de comportamento autodestrutivo da vítima”.
As instituições de segurança pública do Estado de Santa Catarina – Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros Militar e Polícia Científica – trabalharam em conjunto para a elucidação do caso. Buscas foram realizadas desde a notícia do desaparecimento de Lichtenegger, incluindo incursões em trilhas, buscas com cães, por helicóptero, com uso de drones e por embarcações aquáticas. Também foram realizadas perícias tanto no cadáver quanto em objetos pessoais do estrangeiro, a cargo da Polícia Científica. As investigações contaram também com apoio das autoridades austríacas e paraguaias, além de apoio da Marinha do Brasil, EPAGRI, Defesa Civil, Polícia Federal e Centro Integrado de Operações de Fronteira (CIOF).
Foto: Redes sociais/reprodução