18 de setembro de 2024
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Ocorrência

Três ligados a sindicato são indiciados por incêndio a caminhão de lixo

Foto: CBMSC

Detalhes da investigação foram apresentados pela Polícia Civil em coletiva de imprensa

Quatro pessoas foram indiciadas pelo incêndio criminoso a um caminhão de coleta de lixo, ocorrido na noite de 12 de março em Jurerê Internacional, no norte de Florianópolis. Os resultados da Operação Lixo Ardente, que investigou o caso, foram apresentados em uma coletiva de imprensa realizada pela Polícia Civil (PCSC) nesta segunda-feira (9).

Segundo a PCSC, três dos envolvidos estão diretamente ligados ao Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Florianópolis – Sintrasem. Eles devem responder pelo crime de associação criminosa. Já o quarto investigado, apontado como executor do crime, não é filiado ao Sintrasem, e foi indiciado pelos crimes de incêndio, ameaça, porte ilegal de arma de fogo de uso permitido e associação criminosa. Uma quinta pessoa envolvida não pôde ser identificada.

 

Na ocasião, três funcionários da empresa FG Soluções Ambientais LTDA, que realizavam a coleta de resíduos na Avenida Dourados, foram rendidos por duas pessoas armadas e encapuzadas, que em seguida atearam fogo no veículo. A investigação pela 7ª Delegacia de Polícia Civil iniciou logo em seguida. O ataque ocorreu em meio à greve do Sintrasem, que teve como uma das pautas a defesa do serviço público da Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) em toda Florianópolis.

A investigação

A investigação envolveu 15 oitivas, sendo 7 interrogatórios, e 14 laudos periciais que contam com informações obtidas a partir da extração de dados de aparelhos celulares, quebras de sigilo telefônico e telemático e análises de imagens de câmeras de segurança e de rastreamento.

Diversos mandados de busca e apreensão também foram cumpridos no decorrer das investigações. Segundo o delegado da 7° DP, Verdi Furlanetto, o inquérito foi formalmente finalizado e encaminhado ao Judiciário. O envolvido não identificado pode, posteriormente, ser incluído no processo assim que tiver a identidade confirmada. Os indiciados respondem em liberdade e todos eles negam envolvimento no crime. O processo corre em sigilo.

Foto: Babriela Mariotto/TVBV

Investigados foram identificados a partir de movimentação do carro

A primeira fase da Operação Lixo Ardente identificou que os responsáveis pelo incêndio utilizaram um carro Hyunday HB20 para chegar até o local do crime. O veículo seguiu o caminhão pelo trajeto até o local onde foi incendiado. Diligências identificaram que o carro foi alugado em uma locadora no Centro de Florianópolis por um membro da direção do Sintrasem. A investigação colheu imagens de câmeras de monitoramento de diversos pontos da cidade para identificar a placa do veículo e, com dados do GPS do próprio carro, foi possível identificar o trajeto percorrido.

De acordo com a descrição dos eventos cronológicos apresentada pela Polícia Civil na coletiva de hoje, os investigados combinaram a entrega do veículo ao executor por ligações telefônicas, registros a que os investigadores tiveram acesso a partir de quebras de sigilo. Ainda segundo Furlanetto, não foi possível confirmar um envolvimento da pessoas que alugou o HB20 com o crime.

O veículo foi deixado na sede da Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap), na região continental e retirado às 22h26 da noite do crime. Momentos mais tarde, câmeras de segurança flagram o veículo novamente, dessa vez com dois ocupantes, na região do Rio Tavares. Às 22h54, ele estacionou na residência do investigado no Porto da Lagoa. Em seguida, ele parte pra a Comcap do Itacorubi e passa a seguir o caminhão até o local do crime, onde ocorreu às 23h40. Já às 00h02 do dia 13, o veículo sinalizou novamente sua localização no Estreito, deixado novamente próximo à Comcap.

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O cruzamento de imagens das câmeras de segurança com outros dados obtidos durante as perícias possibilitou aos investigadores identificar os envolvidos, com técnicas que analisaram até mesmo a forma de caminhar e a linguagem corporal das silhuetas.

O que diz o Sintrasem

O Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de Florianópolis – Sintrasem realizou uma coletiva de imprensa no final desta segunda-feira para apresentar um posicionamento sobre os resultados da investigação apresentados pela Polícia Civil.

Ao longo das diligências, que tiveram entre os alvos membros da direção do Sindicato, uma nota foi divulgada negando qualquer participação no crime. “Nenhum membro da direção do sindicato está envolvido no referido fato, e acreditamos que nenhum trabalhador esteja envolvido, porque não é essa a nossa cultura de mais de 35 anos de existência em defesa da democracia e dos direitos da classe trabalhadora; e assim continuaremos a nossa luta e a nossa história”, expôs nota publicada nas redes sociais nos primeiros dias da investigação.

O Sitrasem também afirmou também que o inquérito se trata de uma “coleção de ilações e suspeitas frágeis”, e que colaborou com as investigações desde o inicio.

Confira a nota divulgada na integra:

RESPOSTA AO INQUÉRITO POLICIAL QUE TENTA CRIMINALIZAR O SINTRASEM E A LUTA DOS TRABALHADORES

A direção do Sintrasem foi surpreendida nesta segunda-feira (9) com a farsa orquestrada a partir do inquérito que busca apurar as circunstâncias do incêndio do caminhão de lixo da empresa terceirizada, no dia 12 de março – primeiro dia de greve unificada da PMF e Comcap.

Em entrevista coletiva hoje, às 14h, no auditório da Delegacia-Geral, a Polícia Civil de Santa Catarina apontou para o indiciamento de quatro pessoas ligadas ao sindicato.

Apesar da conclusão do inquérito, não há nada além de uma coleção de ilações e suspeitas frágeis. E, pior: com elementos que beiram o absurdo e que serão devidamente desmontados nas nossas defesas.

Por que somente agora, a menos de 30 dias do primeiro turno das eleições, é apresentado o relatório sobre o fato ocorrido há seis meses?

Para o Sintrasem, trata-se de um objetivo claro de interferir no processo eleitoral, tentando criminalizar trabalhadores que lutam no sindicato contra a política de terceirizações e os desmandos de governos.

A direção do Sintrasem colaborou com as investigações desde o início. Foram entregues à polícia registros de câmeras e aparelhos celulares.

Como não temos nenhum vínculo com o fato, nada foi encontrado – e nem será – que pudesse criminalizar nossa entidade.

Todos conhecem os métodos de luta que usamos há mais de 35 anos: mobilizações de rua e greves na defesa da democracia, dos direitos dos trabalhadores e de um serviço público de qualidade para população e contra qualquer tipo de coação ou assédio a qualquer trabalhador, inclusive terceirizados.

Enfrentaremos mais esta batalha com a firmeza e a tranquilidade que sempre fizemos – pois não cometemos crime algum.